Exposição do Acervo
“Carnavalesca”
“Carnaval é uma grandiosa cosmovisão universalmente popular de milenios passados… é o mundo às avessas.” (Bakhtin, 1970)
O Espaço Amarelo inaugura o ano de 2015 com uma nova Exposição: “Carnavalesca”, em homenagem ao Carnaval. Oito obras do Acervo IAED foram escolhidas para esta exposição, dentre elas esculturas e pinturas. Entre os artistas estão Waldo Bravo, Paulino Lazur, Renato Andrade, Arthur Fajardo, José Roberto Aguilar e Jean Jacques Vidal.
As obras expostas configuram uma áurea de abstração e figurativismo e possuem como fio condutor a presença do trabalho pictórico dos artistas: cores vibrantes, quentes e frias em conflitos, tensões e expressividade, além de conceitos abordados em comum como o entrelaçamento, a dissolução do indivíduo em coletivo; o registro de ícones folclóricos que esbarram a representação caricatural e narrativas de vivências regionais. Todos esses elementos celebram a sinergia das forças no espaço que corroboram a festa, o ritual, o Carnaval.
A tradição carnavalesca passou por diversas transformações ao longo do tempo, mantendo sua função de representatividade folclórica, regional, bairrista, interiorana e de cultura do espetáculo, sendo o Brasil o país mais lembrado pela festa neste período do ano, abrigando o maior carnaval do mundo, interpretado por diversas regiões do país, como Salvador, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros. Um momento de “loucura coletiva” onde o papel social pode ser esquecido dando lugar à fantasia, arraigada de cores que explodem ao fervor da música das escolas e blocos de rua. A dissolução do indivíduo: ele se mistura à multidão, vive um quase ou total anonimato e ao mesmo tempo participa também da preservação da identidade cultural. O espaço público é recodificado pela festa e intensa criatividade, tornando-se uma zona de caos, estado este do qual eclodem acontecimentos de diversas naturezas.
O Carnaval, festa anual dos prazeres, pode ser compreendido como resultado de uma vontade humana por liberdade, por festa e desprendimento de obrigações. Tendo sido através da história instituído o período da Quaresma pela Igreja Católica, surge a vontade então de antecipar a festa, sabendo-se que neste período entre a quarta-feira de cinzas e a páscoa (o equivalente aos quarenta dias) estaria proibido o consumo da carne, a qual representa o corpo de Jesus Cristo em seu sacrifício pela humanidade. A palavra “Carnaval” está relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne, marcada pela expressão “carnis valles”, onde carnis remete à carne e valles à prazeres.
A festa também remonta suas origens nas tradições pagãs, nas festas Bacanais em ode ao deus Baco na Roma Antiga, assim como ao Dionísio, na Grécia Antiga, bem como aos rituais Egípcios oferecidos ao deus Osíris. Em todas essas celebrações pessoas de diversas classes sociais se reuniam fantasiadas com máscaras e diversos apetrechos e enfeites para desfilar, dançar, beber vinho, cantar e entregar-se à libertinagens.
Os rituais religiosos pagãos estavam sempre relacionados com os ciclos de fertilidade do solo, marcados pela chegada da primavera que traz consigo os frutos da colheita tão esperados durante a escassez do inverno. Na Idade Média, o carnaval passou a ser conhecido como “Festa dos Loucos”, pois o indivíduo perdia completamente sua identidade cristã, apegando-se aos costumes pagãos.
Curadoria da equipe: Mayra, Heraclio e Marcelo
texto: Mayra Rebellato